quarta-feira, 15 de abril de 2020

Relato de um combatente


Memória de um Combatente

“Aprendi muito com os recrutas. Aprendi a singeleza do Fuzileiro Naval que vem do nordeste, vem do interior, vem do sul de onde seja e lá todos são nivelados na mesma ordem e no respeito. Um Cabo FN tinha mais respeito do que tem hoje um magistrado. Respeitado pelo conhecimento, nunca por medo. Então eu aprendi a grande diferença do mandar para o comandar.” Contra-Almirante (Refº FN) Giovanni Gargiulo

        Conheci o Almirante (FN) Giovanni em 1985, quando eu era aluno do Curso de Comandos Anfíbios - CESCOANF/85 do Batalhão de Operações Especiais - BTL TONELERO e estávamos em exercícios na Região de Canguçu - RS. O Almirante (FN) Giovanni nesse período era o Comandante da Tropa de Reforço.
        Nessa época, a Marinha do Brasil adquiriu da empresa israelense Tadiran, um lote de equipamentos de comunicações via ondas de rádio que cobriam os espectros eletromagnéticos de HF [high frequency] e VHF [very muy frequency] para mobiliar as telecomunicações de campanha do Corpo de Fuzileiros Navais. Com isso,  algumas unidades do Corpo de Fuzileiros ainda não tinham pleno conhecimento desses equipamentos de comunicações da Tadiran (Israel). Esses instrumentos de comunicações eram equipamentos modernos na época, pois incluíam entre estes circuitos, um sistema de sintonia automática, totalmente digital, cujos circuitos eram gerenciados e controlados por um microprocessador.
            O Batalhão tinha dificuldades com apoio de pessoal na área de comunicações nos cursos de Comandos Anfíbios. Nessa missão, no Rio Grande do Sul, foi como encarregado do material de comunicações um Sargento que infelizmente desconhecia esses equipamentos.
Mesmo sendo aluno, fui procurado pelo SG Nonato, Enfermeiro e Comandos Anfíbios, conhecido com o apelido de “Miudinho” determinando que eu ajudasse o SG FN CN X a montar um evento e fazer uma demonstração para o Almirante. O SG FN CN X foi honesto e me informou que “não conhecia nada” do equipamento.
Desse modo, organizamos as nossas Rede Rádio com dois equipamentos para cada rede, de longa e curto alcance, e  ficamos aguardando o Almirante. O Sargento X informou que eu, aluno do Curso de COMANF iria apresentar para o Almirante a Rede de comunicações, então eu disse: “OK”. Quando o Almirante chegou com sua equipe, apresentei-me como o aluno 28 e ele perguntou-me: “Qual é o seu nome?” Eu então,  respondi prontamente: “Leopoldo”. Ele então me chamou pelo nome e não pelo meu número de aluno e questionou: “Leopoldo, isso funciona?” Eu respondi, sem nenhum receio que SIM, pois nunca fiquei constrangido com as autoridades, talvez a espontaneidade e forma natural de lidar com essas pessoas me ajudava a superar qualquer desafio imposto sem preciosismo e tão pouco vaidade. Após a minha afirmação ele observou que havia duas antenas improvisadas e perguntou também se as antenas faziam parte dos rádios. Afirmei a ele que não eram improvisadas, que o “BAGULHÃO e PÉ DE GALINHA foram montadas por mim. Ele educadamente pediu que eu fizesse uma chamada e pra surpresa de todos ali envolvidos o Rádio estava na Rede Operativa da Marinha, eu me identifiquei como sendo do Batalhão Tonelero e na primeira chamada o SALVAMAR de Brasília entrou na frequência. Na comunicação informei que era uma unidade do Batalhão Tonelero em Operação no Rio Grande do Sul e estava fazendo um teste Radio, e só. Terminei a demonstração com as redes de alcance menores e encerrado a nossa apresentação, ele agradeceu e falou novamente meu nome: “Obrigado Leopoldo”.
Olhei para aquele homem, não como um aluno amedrontado, pois nunca fui assim, mas o que destaco aqui é que o tratamento que o Contra-Almirante (Refº FN) Giovanni Gargiulo teve com um simples aluno CB CN me motivou a continuar o Curso e me sentir importante para a Marinha do Brasil e que poderia superar qualquer desafio. Eu tive a certeza que estava diante de um grande líder. Termino meu relato com uma frase que retrata essa experiência: “A maior habilidade de um líder é desenvolver habilidades extraordinárias em pessoas comuns” Abraham Lincoln.

Cordialmente,
Leopoldo João de Albuquerque Ramos
Fuzileiro Naval Comandos Anfíbios

4 comentários:

  1. Agradeço ao blog da Cia Reconter e ao amigo Juaquim Barroso um grande Guerreiro Reconteriano, que ao longo de alguns anos na Cia Reconter ensinou-me muito as técnicas de reconhecimento. Obrigado!!!!

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  2. Olá pessoal...
    Sou o DONIFAN e ser vi com o Cabra (Leopoldo) na Cia RECONHECER de 86 a 94, e sou testemunha do caráter, profissionalismo e grande amigo que é. Até hoje é um dos mais agregadores dos grupos em que participamos dos RECONTERIANOS.
    BRAVO ZULU!

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  3. Olá pessoal...
    Sou o DONIFAN e ser vi com o Cabra (Leopoldo) na Cia RECONTER de 86 a 94, e sou testemunha do caráter, profissionalismo e grande amigo que é. Até hoje é um dos mais agregadores dos grupos em que participamos dos RECONTERIANOS.
    BRAVO ZULU!

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