terça-feira, 7 de junho de 2011

SG Barroso e a Cia ReconTer em exercício de Rapel no Batalhão Riachuelo

Certo dia, lá pelo ano 1992, no Batalhão de Comando da Divisão Anfíbia, por volta de 07:45 hrs, observo que os elementos da Cia não estavam nem aí.
Fui lá dentro da secretaria e observei no quadro de atividades anual, fixado na parede, que naquele dia estava previsto exercício de rapel, com aeronave, no Batalhão Riachuelo, portanto, a Cia já estava atrasada para o evento.
Procurei saber quem era o responsável pelo exercício, foi quando me comunicaram que era eu. Apelei dizendo que não podia, pois existiam determinações que todo exercícios daquela natureza, o mais antigo tinha que ser um Oficial e eu era apenas um Sargento. Foi quando me informaram que todos nossos Oficiais estavam envolvidos em atividades (um estava na Amazônia, outro no Pantanal Matogrossense, etc) e por uma questão de hierarquia, eu continuava sendo o responsável por aquele exercício.
O segundo em comando era o Sg Célio (Jabá), a quem determinei que mandasse o ônibus avançar imediatamente, enquanto eu formava a Cia já dividindo em equipe de desembarque.

Dentro do ônibus, enquanto se deslocava para o Riachuelo, me dirigi a Cia:
-Pessoal, tem alguém aqui, que nunca tenha feito rapel de aeronave?
E a resposta foi negativa, todos eram experientes.
- Então, nós estamos atrasados e passíveis de levarmos uma bronca. Podem deixar comigo que assumo a responsabilidade e quando chegar lá vou mandar desembarcar e formar para apresentar ao mais antigo, então quero todos com a moral elevada, peito para fora e barriga para dentro.
Quando lá chegamos, de longe eu avistei o CMG, Comandante do Batalhão Riachuelo, na posição de descansar (nesta época os Batalhões de Infantaria eram comandado por Capitães de Mar-e-Guerra), do lado dele estavam o Piloto e o Co-piloto da aeronave.
Então, comandei: Atenção Companhia, coluna por três, Companhia sentido, direita volver e me voltando para ele, levei a mão a pala e disse bem forte: Sargento Barroso, apresento a Companhia Reconter pronta para fazer o exercício de rapel.
Ele olhou bem pra mim de baixo acima e disse: Sargento, Sargento Barroso, como você me explica? chego no meu quartel às 06:30hs e encontro uma aeronave pousada no heliporto e ninguém sabia me explicar porque. Vou procurar saber e descubro que é para fazer exercícios com vocês e me chega você um Sargento, uma ora dessa. Como você me explica?
-Explico agora mesmo, permissão, e me virando para a Cia comandei forte e claro: Companhia, descansar. Sargento Célio, fora de forma. Vou passar o comando para você, você pede ao comandante permissão para se retirar e conduza a companhia, em passo acelerado, para o heliporto, faça o briffing e pode começar o exercício, que eu vou explicar para o Cmte o porque da aeronave e me virando para a guarnição da aeronave disse: senhores queiram guarnecer a aeronave.
Assim o SG Célio procedeu.
Após a Cia sair ele se dirigindo a mim perguntou: e agora SG Barroso, como você me explica?
-Comandante, todos nossos exercícios fazem parte do PAAD e soletrei P-A-A-D (Plano Anual de Adestramento). Assim, durante o planejamento, 6 meses antes, nós enviamos um rádio, solicitando a aeronave, com ação para São Pedro d’Aldeia e com informação para Brasília e para o Riachuelo. Algum tempo depois São Pedro d’Aldeia responde positivamente ou negativamente, com ação para nós e informação para Brasília e para o Riachuelo, esses 2 rádios foram recebidos pelo Batalhão Riachuelo e certamente alguém os leu e os mandou para o arquivo. Portanto o Sr não pode acusar que não sabia que a aeronave ia pousar hoje no heliporto.
O Comte fazendo um gesto de desagravo, disse: tá bom pode ir.
Quando cheguei lá em cima no heliporto já havia sido realizado o briffing e o exercício já havia começado e tudo transcorria normalmente quando de repente chegou o Comte Alves CF (FN) S3 do Batalhão de Comando da Divisão Anfíbia e se dirigindo a mim perguntou: Barroso o que está acontecendo aqui?
Disse-lhe: Tudo normal, exercício sendo realizado sem nenhum incidente. Agora, o CMG lá em baixo, está furioso e acusou que não sabia que a aeronave ia pousar hoje no convôo dele e pelo exercício ser comandado por um Sargento. Expliquei-lhe que nossos Oficiais estão todos em missão e que por questão de hierarquia o exercício seria por mim comandado e que no Quartel dele certamente tinha 2 rádios lhe informando sobre o exercício com a aeronave.
Disse o Comte Alves: tudo bem continue com o exercício. Esse desgraçado, se referindo ao CMG, ligou para o Comando de Operações Navais e até para Brasília para fazer fofoca sobre isso.
Terminado o exercício, formei novamente a CiaReconter e ao solicitar autorização para me retirar recebi um não.
Disse o Comte: faça como da outra vez, passe o comando para o outro SG que eu quero falar com você.
E assim o fiz, passeio comando para o SG Célio e determinei que ele após solicitar autorização ao Comte do Batalhão, conduzisse a Companhia ReconTer “correndo-curto” até ao Batalhão de Comando da DivAnf, que eu ia ficar para ouvir o Comte.
Após a Cia sair ele se dirigindo a mim perguntou: SG Barroso você quer servir no meu Quartel?
-Não Sr.
-Porque você não quer?
- Por que estou contente em servir na CiaReconter. Lá nós temos a missão específica de reconhecimento, atuamos em pequenos grupos, é diferente do combate convencional, como é a missão dos Batalhões de Infantaria, mas também podemos atuar em prol dos Batalhões.
-Tá bom, pode ir que eu vou mandar um elogio pra você.
-Mas Comte, agora eu fiquei curioso, porque o Sr. Gostaria que eu servisse em seu Quartel?
-Por que tenho sob meu comando um montão de Sargentos e se eu perguntar a qualquer um deles o que é PAAD eles não sabem e você sabe.
-Pois é Comte, nós na Cia ReconTer somos obrigados a saber e fazendo a continência pedi permissão para me retirar.
OBS. Até hoje não recebi o elogio.
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quarta-feira, 1 de junho de 2011

Capitão Marques

"Alguém sabe o paradeiro do Capitão Marques, um dos maiores Comandantes da Cia ReconTer? Quando era Imediato do Batalhão de Comando da Divisão Anfíbia, participei de um reconhecimento na região de Salvador-Bahia, para realização de uma Operação Dragão, que foi cancelada em virtude deste reconhecimento. O Capitão Marques deu um show, conseguindo avião, alojamento, viaturas da companhia de telefones da Bahia (Telebahia), etc, etc. O Cabra Leopoldo estava presente."

Escrito pelo Cmte Lúcio.

sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

A Cia ReconTer


Foto histórica da Cia ReconTer no Batalhão de Comando da Divisão Anfíbia.

Fast Hope

Cia Reconter desembarcando de uma aeronave Super Puma utilizando um cabo Fast Hope.

Observe a velocidade do desembarque.

Cia ReconTer usando Submarino como meio de transporte.


Cia ReconTer em missão de infiltração a partir de um submarino

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Cia ReconTer em Operações Ribeirinhas.


Cia Reconter em missão de patrulha Ribeirinha.

Cia ReconTer em Itatiaia


Cia ReconTer em Exercício no Parque Nacional de Itatiaia em contato com a neve.

Dois reconterianos sendo extraído por aeronave.


Dois reconterianos sendo extraído por aeronave modelo Esquilo.

Cia ReconTer no movimento navio para terra.


Cia ReconTer no movimento navio para terra utilizando uma EDVP.

Cia ReconTer em posição.



Cia ReconTer aquecendo, com o Cmte à frente. Observa-se o símbolo da Companhia ao fundo.

Cia ReconTer passada em Revista


Cia ReconTer sendo passada em revista.

segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Balanço da Reconter pelo Cmte Lucio de Almeida


Desde o início na Reconter, nós procuramos treinar e ensinar o nosso pessoal. Quando cheguei, a Reconter quase não fazia reconhecimento, e atuava mais como “Força Inimiga” da DivAnf nos exercícios em Itaoca. Atuava como Infantaria defendendo o terreno. Eles adoravam porque ganhavam muitas diárias (chegavam antes da ForDbq, e partiam depois). Não havia nenhum exercício externo. Por outro lado, a Reconter atraia o ódio dos BtlInf, o que não era confortável. Com algum sofrimento (é muito difícil mexer no bolso, principalmente com nossos baixos soldos) consegui mudar o quadro, e impor exercícios externos para a Reconter. Não conhecia nada de Operações de Reconhecimento, e com a ajuda do brilhante Imediato Comte Cosme, - segundo lugar na sua turma da Escola Naval, salvo engano-, começamos a traduzir os manuais que batiam em nossas mãos. E descobrimos que fora feita uma tradução muito simplista destas operações; creio que julgassem não estarmos à altura da sua execução. O Comte Cosme fez uma tradução exata dos manuais, e começamos a tentar entendê-los, e a tentar praticá-los; iniciamos um exercício noturno toda semana. As equipes Recon são comandadas, na grande maioria das vezes, por Cabos e Sargentos. Os nossos Oficiais eram novatos (“quatis rabudos”). Assim, demos ênfase ao treinamento e à instrução dos nossos líderes. Exigimos que os Cabos assumissem o comando das suas equipes, e que os Sargentos cobrassem deles todas as verificações (de presença, de armamento e munição, de material, etc). E que os Tenentes recebessem as notificações dos Sargentos-Guia dos Pelotões (isto daria mais força, comprometimento, e um moral mais elevado para os nossos líderes. E procuramos ficar mais juntos deles (até mesmo dormindo na mesma barraca junto com os Suboficiais e Sargentos). O melhor método de ensino é o de aprender com os erros. Assim pagávamos a missão e praticávamos muita sabotagem (avariávamos os motores de popa, não dávamos os códigos de rádio, não dávamos hora para o encerramento, etc.). E por ocasião da crítica dos exercícios, estes fatos eram comentados (para a tristeza e para o aborrecimento dos novatos). Procuramos realizar no mínimo um exercício externo, com duração de uma semana, em áreas similares aquelas em que atuaríamos (montanha, selva, mar, etc). Descobrimos uma área em Mangaratiba que era um verdadeiro campo de reconhecimento, possibilitando diversos tipos de atuação (pontes de diversos materiais, taludes, montagem de PVs, dificuldade de comunicações, uma marcha violenta por diversos municípios através montanha e clima frio, operações com aeronaves, natação extrema (cerca de 1 Km) armado e equipado, natação utilitária, lançamento de carga aérea, pistas de primeiros socorros – era exigido em todos os exercícios, assim como as pistas de comunicações, orientação no terreno, e de acuidade auditiva, visual, ótica e tátil (AVOIT). Uma vez por ano fazíamos exercício, com duração de uma semana, na Base Aeronaval de São Pedro D`Aldeia, explorando em toda plenitude a operação com aeronaves; dirigíamos as aeronaves na aproximação final (os Pilotos teriam que confiar no nosso trabalho), inserção de equipes Recon ( a aeronave fazia pousos falsos para enganar a observação inimiga, e possibilitar o sucesso da missão, lançamento de carga aérea, métodos de retirada de equipes Recon em terra e no mar (rapel, Mcguiver ou penca, demarcação de heliponto diurna e noturna para evitar a observação pelo inimigo, etc, etc. E tínhamos um exercício anual em Itatiaia para operações de Montanha e de Clima Frio. Era violento: escaladas, marchas entre municípios, ocupação de PV diurna e noturna ao relento, resgate de feridos, carga de material pesado em montanha, e as sempre presentes pistas de primeiros socorros, orientação, comunicações e AVOIT. Num dos exercícios quase perdemos um Pelotão de Infantaria do Batalhão Humaitá que estava pernoitando no Abrigo Rebouças e foi salvo pelos integrantes de um dos nossos Pelotões que montava um PV do lado de fora para aclimatação ao clima frio; os Infantes tocaram fogo em tudo aquilo que eles conseguiram de madeira, por que não estavam agüentando o frio,e quase morreram sufocados pelo CO2. Noutro exercício tivemos que montar um resgate dificílimo para retirar um soldado de um Batalhão de Infantaria de um dos picos das Agulhas Negras (este soldado, a bordo da aeronave teve paradas respiratórias e cardíacas, sendo salvo pela exata formação do nosso enfermeiro). Assim, ao final de um período de três anos, conseguimos ter, em todos os níveis, a melhor Companhia da DivAnf. Teve uma manobra em Mangaratiba em que o Piloto da aeronave, que veio para o exercício, foi o próprio Comandante do Esquadrão (em algumas manobras aparecia o Imediato do Esquadrão, ou alguma autoridade mais elevada). Num dos eventos, a inserção de uma equipe de reconhecimento, eu lhe disse que o comandante era um cabo, e que caberia a ele fazer um breefing da missão, e perguntei-lhe se ele faria alguma objeção, recebendo o seu afirmativo. O Cabo, se não me engano, era um do Paiol de Material, não diretamente empenhado em operações de reconhecimento (CB Sales? A memória já me falha!). Terminado o breefing, o Comandante do Esquadrão pediu a palavra, e disse que foi um dos melhores breefings de que ele já participara, e melhor do que os breefings feitos por muitos Oficiais. Então eu senti que o comando da Reconter (Imediato, Operações, Pessoal, Comunicações, material, etc) havia feito a opção correta, e que estávamos no caminho certo. Tivemos uma grande preocupação com o nosso pessoal. Como éramos uma Unidade de Elite, eu podia requisitar e escolher aqueles que seriam Guerreiros Recon. Tinha toda a Divisão Anfíbia ao nosso dispor com o aval do Almirante. Como o nosso grupo era pequeno face ao efetivo dos Batalhões, pedíamos humildade o tempo todo, e para que fossem evitadas brincadeiras de mal gosto e exibições indevidas para com os elementos de fora da nossa Companhia. E não tínhamos o mínimo de tolerância com nenhuma infração disciplinar, mau comportamento, atitudes suspeitas, vícios, etc. Tivemos a denúncia de um Cabo que afastou do nosso convívio um Primeiro Sargento (após apuração do Imediato). Dizíamos que a porta da rua estava aberta para aqueles que não atuassem dentro do nosso espírito; ou sairiam de livre vontade (sem nenhuma punição, lançamento, ou informação negativa, nada; apenas sairiam porque não estavam dentro do padrão Recon), ou seriam convidados a sair, inclusive sendo dada a chance de escolher para onde gostariam de servir. Nós acreditávamos que só pelo fato de terem escolhido a Reconter, e passado pela nossa violenta seleção, já era motivo de orgulho para nós, mas que eles não estavam dentro do padrão exigido.  Outra grande preocupação foi a enviarmos o nosso pessoal para cursos de Comanf, Operações na Selva, Montanhismo, Manutenção de Motores de Popa, etc, com enorme sacrifício para os que ficavam porque o nosso efetivo era muito pequeno, mas não abrimos mão de qualificar o nosso pessoal. Como as nossas equipes não podiam contar com elementos de Saúde e de Comunicações, realizamos exercícios contínuos destas modalidades. Buscávamos reduzir o estresse do nosso pessoal ao máximo. Criamos uma caixinha na Companhia (fato proibido em nossas OMs) a pedido de todos e com a concordância de todos, sob a minha responsabilidade, e controle do Imediato e dos nossos Encarregados de Pessoal e do Sargenteante; era feita uma diferenciação para Oficiais, Sargentos e Cabos e Soldados esta caixinha era usada para algum pequeno empréstimo, e era encerrada no fim de cada ano com um grande churrasco para as nossas famílias e alguns convidados especiais. Todo exercício era encerrado com um grande churrasco, algumas vezes com o apoio do Batalhão (eram realizados quatro ou cinco grandes exercícios fora da sede do Rio de Janeiro, o que implicava em enorme dificuldade logística), nas outras vezes com o emprego de uma grande química. Em quase todos os exercícios, principalmente com o apoio do Imediato Comte Vargas, nós elaborávamos o cardápio em que foram introduzidas grandes melhorias no desjejum e nas refeições; também, trabalhávamos em condições de extremo desgaste, em que tínhamos quase sempre de fornecer comprimidos de relaxante muscular, e massagens. Em Mangaratiba facilitávamos uma licença noturna para o nosso pessoal. No Parque Nacional de Itatiaia a noite era livre para o pessoal que permanecia no PC (infelizmente eram poucos, e não havia nada para passeios ou diversão). E conseguimos fincar uma bandeira do nosso PC durante a Operação Dragão, junto com os PCs dos BtlInf! Comandei a Reconter de Janeiro de 1981 (por Portaria do Comandante –Geral do CFN) até 4 de março de 1986, quando assumi a função de Imediato do Batalhão ( e mesmo como Imediato ainda participei de um reconhecimento para uma Operação Dragão ( junto com o CB Marinho e o nosso Monstro). Nos cinco anos em que estive à frente da Reconter, eu tive o privilégio de ter poucas mudanças no meu pessoal. Mas, ainda assim, nós não atingimos um patamar eficiente de atuação. Ainda havia muita coisa para aprender.Falta um curso de Operações de Reconhecimento, a ser realizado no CIASC, dirigido por pessoal cursado no exterior. Faltam equipamentos, armamento, uniformes especiais, rações especiais; atuávamos em clima frio sem nenhum uniforme adequado e apropriado. Equipamentos de Comunicações inadequados, guarnecendo duas redes (para que?), com apenas quatro vigilantes carregando dois pesados aparelhos de rádio- comunicações com quatro pesadas baterias, mais quatro rações de combate por homem ( 4Kg!!). E ainda era exigido carregar um grosso plano de comunicações, com códigos e senhas sendo alterados de hora em hora. E atuávamos contra um inimigo que possuía os mesmos equipamentos, códigos e idioma. Eu quebrei este ciclo usando um mapa para cada equipe Recon, diferente para cada patrulha, onde eu alterava as coordenadas (sempre posicionando as coordenadas no mar), e modificando a identificação das patrulhas (que agora eram Recon02,03, etc, e o meu PC sempre era Recon01). Assim todas as mensagens saiam em linguagem clara (a minha posição é...). E nenhum plano de comunicações era carregado. Encerrando esta  Bem amigos, a Reconter foi a unidade (Sub-Unidade?) em que eu passei o maior tempo da minha vida de Fuzileiro Naval (como Imediato e Comandante – cerca de cinco anos- ainda vivi muito do espírito do pessoal Recon, e ao final do meu comando e da minha vida na MB, pude deixar a Reconter super equipada (várias EDPns nas caixas, GPS, etc.), com grande conforto para todo o seu pessoal (ar condicionado em todas as dependências, bem como equipamentos de som,TV e lazer), com um quartel novo, bem dimensionado, com um camarote e câmara improvisados para o Comandante, com um Paiol de Material bem construído, com lages e local de dormida para o Paioleiro, com um amplo estacionamento para todos ( que serviria como heliponto e local de exercício com aeronaves), e com uma praia só para ela e com fácil acesso. Tudo isto foi construído pelo pessoal da Reconter (sob o comando do brilhante Comte José Jorge), com muito sacrifício e dor, e com um risco só meu (o meu Comando não me deu garantia para as transformações que fizemos com a verba oriunda do EB por ocasião de uma manobra nos morros cariocas). Foi muito complicado devido ao curto espaço de tempo para a comprovação desta verba, e eu pude pegar quase toda a verba porque nossas Unidades a dispensaram.
Infelizmente não dá para colocar tudo neste Balanço. Muito sofrimento, dor, suor, corpos enrijecidos, medo, saudade, frio, resgates e salvamentos, atos heróicos, pessoal capturado em exercícios, etc. Muita coisa ficou para trás. Uma reflexão. Tenho ouvido que a primeira Unidade a ser empregada será o Batalhão de Operações Especiais. Eu discordo veementemente. As primeiras unidades a serem empregadas são e serão sempre as unidades Recon, conforme a doutrina americana (cuja doutrina é seguida pelo nosso CFN), e que direcionou a formação das nossas Unidades. Iniciamos como um Núcleo da Primeira Divisão de Fuzileiros Navais. Uma Divisão de Fuzileiros Navais é composta por três Regimentos de Infantaria e demais apoios, aí incluído um Batalhão de Reconhecimento. O Brasil, pelas nossas dimensões continentais deveria ter duas Divisões de Fuzileiro Navais completas (uma segunda Divisão no Nordeste???). A formação de um Comando Anfíbio traz um grande embasamento para as operações de reconhecimento (como os demais cursos de saúde, de operações com aeronaves comunicações, operações em montanha e na selva, etc.). No entanto, quando um companheiro retornava do curso de COMANF, dizíamos para ele esquecer tudo e voltar ao comportamento Recon. O COMANF vai em grandes grupo barulhentos em sua maioria, rompendo a macega afora, com grande armamento pesado. O guerreiro Recon trabalha em grupos de no máximo quatro vigilantes, com pouco armamento de defesa individual, e tem que trabalhar com muito silêncio nos Postos de Vigilância, agüentando a solidão, agüentando picadas de insetos, rastejando pelas macegas, se locomovendo à noite, não pode usar fogueiras, fogos, nem aquecer a sua ração, porque ele trabalha sempre dentro do território inimigo. Muitos poucos agüentam esta situação. Fechando esta breve reflexão, espero que o Comando- Geral do Corpo de Fuzileiros Navais reveja a organização que retirou a Reconter da Divisão Anfíbia, e caso possível crie um Batalhão Recon; a Companhia isolada nunca irá atingir um estágio de excelência; a sua posição dentro de uma outra Unidade que não tem a ver com o seu emprego ( como no caso do Batalhão de Comando, onde tínhamos que encerrar o adestramento para realizar faxinas, marchas administrativas, paradas, mostras, etc.). O Batalhão Recon poderia permitir o emprego de viaturas blindadas para o reconhecimento de eixos, de aeronaves de observação não tripuladas, bem como a estrutura de apoio de um Batalhão para a guarda do equipamento, montagem e operação de Postos de Comando e acampamentos, serviços de Informações, operações, controle de material, rancho, etc. A Base construída na DivAnf pelos elementos Recon comandados pelo Comte José Jorge já está pronta! Encerrando, se me fosse permitido eu teria encerrado a minha atuação no Corpo de Fuzileiros Navais na Companhia de Operações Especiais de Reconhecimento (para a tristeza e desespero dos Comandantes Cosme, José Jorge, e todos os demais oficiais!!!!). Peço desculpas pelos erros. Esta mensagem está sendo enviada para todos os Guerreiros Recon, e para os meus amigos e colegas de turma.